quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Candomblé: festa, tradição e alegria

Foto do terreiro de matamba tombenci neto
Sempre que passamos numa rua e ouvimos aquele som que logo passa a ritmar a batida do nosso coração, imediatamente imaginamos que em algum lugar daquelas ruazinhas estão cantando, tocando e dançando um Xirê, está a acontecer uma festa de Candomblé e não precisa ser do santo pra identificar, basta ouvir e sentir.E é neste momento, neste exato momento, que não conseguimos nos controlar, afinal, quem controla o coração? Ainda mais um coração que bate de acordo como os movimentos feitos pelos sensíveis tatos dos ogãs e o coro forte dos tambores que emitem o som da nossa alma, o som da emoção. E muitas vezes, meus irmãos, confesso que me pego às lágrimas de tanto que me sinto envolvida nesse mundo de tambores e magia, como se meu coração só conseguisse bater no ritmo eloqüente dos orixás. Esse efeito mágico é diferente de tudo, pois é causado pela minha descendência, é uma parte minha que veio da Velha Mãe África.
Um dos legados que os nossos antepassados nos deixaram e que seguimos a risca é a festa: festejamos a natureza, festejamos o nascimento, festejamos os orixás e quem vai a uma roda de Candomblé pela primeira vez e apaixona-se, não a deixa nunca mais. Pensando bem, é um toque que define o nosso sentimento pelo Candomblé, pois é num toque que sentimos todas as emoções possíveis e imagináveis de como quando ouvimos uma cantiga que nos toca em especial, mais profundamente… É nele que passamos a conhecer os orixás, sentir seu abraço, sua energia, passamos em fim a conhecer nós mesmos.
O toque, na maioria das vezes é um momento de alívio e agradecimento pela obrigação precedida, é o momento de mostrar à sociedade o noviço, o Yao que acaba de nascer novamente, desta vez para seu orixá, e muitas vezes também é o momento de mostrar os feitos dos próprios orixás, lembrar passagens históricas ocorridas entre eles com danças, passos compassados e muita alegria.
É uma tradição que atravessou o Atlântico, venceu todas as barreiras de preconceito e vai a se disseminar e unir as antigas e novas gerações. Reforçando assim os laços de amor e fraternidade entre irmãos e construindo um alicerce ainda maior para os verdadeiros conceitos e a verdadeira magia do Candomblé, elem de aflorar nossa sensibilidade, pois nascemos para sentir, somos seres sensíveis por natureza.
Deparamo-nos com um super pôr do sol e paramos para observar aquela imensidão rósea; envolvemos-nos com absoluta facilidade com o movimento sereno ou às vezes assustador das ondas do mar; deixamos de ouvir até os nossos pensamentos quando ouvimos o barulho de uma cachoeira. E ficamos extasiados com a imensidão da água que cai do céu, enquanto os trovões e os raios fazem um show à parte de imagem e som, som voraz e que sempre me lembra justiça e proteção, proteção de pai. É nessa sintonia perfeita de som e luz que me perco e percebo o quanto a natureza mora em mim, mora dentro de nós.
E é essa natureza que fala mais alto quando escutamos o som dos tambores, nos envolvemos com o som divertido e frenético dos abes (instrumento à maneira de um chocalho, formado por uma cabaça e uma malha de contas) e observamos nitidamente o som preciso e decisivo do agogô (instrumento formado por um sino ou mais presos a uma base e, sendo tocado por uma baqueta de madeira).Não há como fugir meus irmãos, não há como fugir dessa magia sem igual, não há como não se envolver no bailar das pessoas diante da roda. Uma roda que demonstra aos mais atentos, responsabilidade, tradição e muita alegria, alegria em estar adorando àqueles aos quais descendemos, amamos e que vivem dentro de nós, nos movendo e nos mostrando o caminho melhor a ser seguido nessa batalha cotidiana em que vivemos, onde não lembra a nossa sociedade ancestral. Mas é aí que entra a sintonia perfeita: ao sairmos do toque já chegado ao fim, estamos com a fé renovada. São as forças da natureza, os nossos orixás que nos movem para as nossas vidas, dessa vez ainda mais felizes, lembrando sempre nossos melhores valores, lembrando que a vida deve ser vivida sem culpa e sem pecado, que não temos outro bem maior que a família e que nunca, nunca conseguiremos viver sem alegria e sem um belo sorriso no rosto. “Viver e não ter a vergonha de ser feliz”.
Publicado em Candomblé, Cerimónias/Rituais, Música/Dança dos Orixás Candomblé

2 comentários:

  1. Gostaria muito de ver videos de barravento de Matamba!!!
    Conheci estes videos que vcs postaram pelo You Tube.
    Muito lindo,minha mae esta maravilhosa!!!

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  2. Nós, da equipe do blog Candomblé - O mundo dos orixás, ficamos muito felizes com as proporções que os nossos textos tomam a partir da aceitação dos leitores.
    Eu, em suma, fico ainda mais contente em ver um texto escrito por mim sendo levado para outros blogs e para o conhecimento de outras pessoas acerca desse mundo mágico e lindo que é a nossa religião.

    Axé!

    Dayane, uma das autoras da equipe do blog Candomblé - O mundo dos orixás
    http://ocandomble.wordpress.com/

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