Mãe Ilza Mukalê e Samba de Treita |
Arte produzida por mulheres negras, resistência,
feminismo negro, ancestralidade e lugar de fala foram alguns dos temas
discutidos na última sexta-feira, dia 10, no segundo Encontro da Oralidade. Mãe
Ilza recebeu, no Terreiro de Matamba Tombenci Neto, a multiartista
soteropolitana Sanara Rocha e a atriz, poetisa e professora ilheense Tereza Sá.
Com o terreiro lotado com um público formado por
estudantes, ativistas, professores e pesquisadores de diversas áreas, Mãe Ilza
falou do seu início na vida artística, que começou com Mário Gusmão, importante
ator e bailarino baiano, quando teve sua primeira experiência como atriz.
Mãe Ilza Mukalê |
Mãe Ilza também contou sobre a abertura do terreiro para
ensaios de diversos grupos culturais, que começou com a sua Mãe, Dona Roxa. A
matriarca do Terreiro de Matamba Tombenci Neto, também participou de escolas de
sambas de Ilhéus.
"Tive uma caminhada muito longa, muito vasta. Fui
sambista, recebi título de melhor sambista, melhor porta-estandarte. Minha mãe
nunca me proibiu de nada por causa da religião", ressaltou Mãe Ilza.
Sanara Rocha, facilitadora da oficina de percussão,
explicou que a comunidade negra, em África, sempre foi interdisciplinar, ao
misturar dança, música e teatro, além de outras linguagens artísticas num só
espetáculo. “A gente nunca separou arte de ciência, da vida, da celebração”,
destacou a artista.
Sanara Rocha |
Ela completou dizendo que “quando a gente para se
entender como negro, pra observar o que os negros e negras antes de nós
construíram, a gente percebe que sempre foi assim: dança, música, teatro,
poesia, tudo junto".
No que diz respeito à participação das mulheres negras
fazendo arte, ela destacou que “dentro de tudo que a gente entende como
negritude, existe uma deficiência no que diz respeito às narrativas femininas”
e por isso "estamos pensando novas formas de construir nossas artes,
reinventar".
A artista Tereza Sá iniciou sua fala recitando o poema “A
noite não adormece nos olhos das mulheres”, de Conceição Evaristo, Tereza Sá
abriu sua fala: “Como meu pai escrevia e a gente [seus irmãos] precisava ir
para o escritório com ele. Lá, eu lia vários livros e poemas. Logo depois,
resolvi fazer teatro”.
No centro, Tereza Sá |
Sobre ancestralidade, Tereza explicou que encontros como
o proporcionado pela Organização Gongombira, são importantes para reconhecer a
história de quem estava aqui antes. "Quando a gente se encontra nesses
espaços, só estamos ressignificando nossa ancestralidade", enfatizou a
atriz.
Tema que provoca debates e divergências entre ativistas,
Tereza frisou que o lugar de fala é algo que deve ser respeitado, pois “uma
mulher branca não pode falar do lugar de uma mulher negra, pois não tem
experiência para isso”.
Mãe Ilza aproveitou a oportunidade para falar sobre o
julgamento do Recurso Extraordinário pelo STF, que irá analisar se o sacrifício
de animais por religiões de matriz africanas se encaixa como maus-tratos. "A
carne do animal sacrificado não e jogada fora, é preparada muito bem para o
povo de terreiro comer. É daquele carne que a gente vai ficar mais forte".
O encontro ainda contou com a animação do grupo Samba de Treita,
que animou a noite com muita música. A atividade faz parte da terceira edição
do projeto Mãe Ilza Mukalê, promovido pela Organização Gongombira de Cultura e
Cidadania, com promoção do Estado da Bahia e apoio da Universidade Federal do
Sul da Bahia e Teatro Popular de Ilhéus.
Confira mais fotos clicando aqui.
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